Ouvir o chamado interno – por Richard Geremias

        É comum ao ser humano vivenciar algum grande dilema em sua trajetória de vida. Foi o que passei anos atrás. Vivendo e trabalhando na cidade de São Paulo, senti quanto o tempo pode correr depressa e também como é fácil perdê-lo em esperas no trânsito, nos trens e metrôs. Em muitos momentos eu torcia para as horas passarem, em outros, quando em contato com a terra, não sentia que existia relógio. O estado de presença no contato com as plantas e a natureza me levavam a um plano atemporal. Nossa vida, assim como o outono, tem fases de desapego para perder as folhas velhas e poder rebrotar e florir em novos ciclos. 

         Pensar sobre a possibilidade de um grande colapso do sistema econômico trouxe um objetivo: aprender e trabalhar com produção de alimentos. Fui então estudar agronomia. Um chamado interno pedia reconexão com as coisas simples e belas. Com o tempo compreendi que não se tratava só de conhecimento técnico, mas da importância de vivermos os ciclos da natureza mais de perto. Observar e praticar continuamente para desenvolver a sensibilidade, e assim entender melhor o que as plantas e o ambiente precisam. Assim a agricultura é arte e a ecologia mais profunda.

         Atualmente trabalhando no Sítio A Boa Terra, me sinto satisfeito em ver como é possível produzir com abundância e livre de venenos , agredindo menos o ambiente e os trabalhadores. Mas já sentimos os desafios futuros com o envelhecimento da mão de obra no campo e a crise da água. Acredito que serão necessários mais trabalhadores na agricultura, mais pequenos produtores que busquem melhorar o solo sempre e conservar as águas.  E mesmo as máquinas mais inovadoras não dispensarão a mão humana. Espero que não seja tarde quando todos perceberem a importância de manter e plantar mais florestas. 

          Tenho certeza que na cidade ou no campo é necessário elevarmos nosso estado de consciência como seres humanos, com a intenção de melhorar o ambiente em que vivemos, buscando harmonia nas relações com a natureza e com o próximo. Que sejamos gratos por todas as oportunidades que a escola da vida nos oferece.

           Por isso, é importante estarmos atentos aos detalhes, pois o canto de um pássaro ou o germinar de uma semente podem mudar uma vida.